O QUE É RACISMO


INTRODUÇÃO

Sob efeito da opinião pública, um juiz havia decretado integração racial nas escolas do Estado. A pequena Judith ia enfim sentar-se num banco de madeira para aprender as coisas que faziam o orgulho dos adultos. Sua mãe ouvira no noticiário matinal que o mundo inteiro prestava atenção nos Estados Unidos, no Texas, naquela modesta escola de Dallas, na sua pequena Judith, mas foi serenidade que lhe preparou a lancheira e os cadernos. Um irmão acompanhou Judith até perto.
Não foi comum seu primeiro dia de aula. Nenhuma criança branca comparecera, de forma que a professora, sem saber onde pôr as mãos, ensinou tudo sozinha para ela ? e, na verdade, para centenas de soldados que do lado de fora garantiam sua integridade. Ao comer a sua merenda, Judith continuava só. Meio-dia, quando guardou seus pertences para voltar a casa, já não se sentia nada contente. As duas fileiras de soldados faziam um corredor para ela passar. Por detrás deles apareceram, então, centenas de carinhas brancas ? xingando, vaiando, cuspindo. Havia adultos, também, mas Judith não quis olhar ninguém. Seus passos eram firmes, até onde uma garota de 7 anos pode andar assim. O coro a perseguiu até à praça, em frente à escola.
A pequena Judith sentou-se, então, num banco de pedra e abaixou o rosto. Um homem branco veio na sua direção ? os soldados, por um instante, chegaram a pensar numa agressão. Ele pôs a mão no seu ombro, de leve, e segredou: "Judith, não deixe eles verem que você está chorando".
Fatos reais, como este, pontilharam a crônica dos Estados unidos na década de 1960, parecendo confirmar que ali é, por definição, a pátria do racismo. Nenhum país do mundo, entretanto, desconhece, ou desconheceu, uma forma qualquer de racismo. Até mesmo o Brasil, cujos governantes sempre se orgulharam de sermos uma "democracia racial", tem dado provas de que o fenômeno é universal. Este pequeno livro que você vai ler, procura responder à pergunta: "O que é racismo?", primeiro no mundo ocidental, de que fazemos parte; depois no Brasil. Naturalmente, nos achamos em melhor posição para ver o racismo aqui do que lá fora, mas até mesmo para compreender o nosso, precisamos de um termo de comparação.
Para muita gente, o racismo ? que basicamente é uma agressão contra os outros ? só se combate com outra agressão. Está bem: quem foi discriminado tem o direito, e até o dever, de reagir. (A própria teoria dos Direitos Humanos, tão em voga hoje, assegura àqueles que são vítimas de uma opressão o direito de liquidar ela.) O racismo, entretanto, não é só uma atitude ? como, por exemplo, a dos que vaiaram, cuspiram e xingaram a pequena Judith que só queria estudar. O racismo é, também, uma teoria, defendida em livros e salas de aulas com argumentos e teses "científicas". Para brigar contra ele será preciso, antes, desmontar esses argumentos e teses.

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